A internet pode te deixar pobre e doente

Me perdoe o título alarmista e o clickbait, mas eu precisava chamar a sua atenção para um assunto realmente sério! Sim! A internet pode te deixar pobre e doente.

Convivo nesse mundo online desde meus 12 anos, e desde os 12 anos eu escrevo! Escrevo para ser lida, escrevo para ajudar pessoas, escrevo para me comunicar, para me inserir, para contribuir. Os temas mudam, como eu mudo. Já escrevi sobre o dia-a-dia de uma adolescente, já ensinei a fazer letreiros que piscam e rodam no blog, já escrevi contos, já postei muito sobre casamentos… Hoje, depois de viver várias fases da internet, estou aqui, lutando para escrever.

Não é que faltem as palavras, o que falta mesmo é a conversa. Acho que faço parte de uma resistência silenciosa e solitária que valoriza o conteúdo com profundidade, a discussão com reciprocidade e a comunicação clara e universal? E se você também valoriza essas coisas, leia com atenção esse artigo e, se sentir vontade de colaborar, comente e compartilhe com a sua rede.

O legal da internet é que ela é democrática. Todos podem contribuir. Mas por que será que estamos ficando cada vez mais fechados, apenas consumindo coisas e pessoas, compartilhando o que já foi repetido inúmeras vezes e discutindo sempre os mesmo assuntos que nos revoltam?

As redes sociais viraram apenas plataformas de propaganda invasiva, não regulamentada e injusta. De democrático não tem nada mais…

Com quem estamos colaborando? Que bem estamos gerando para o próximo quando conectados? Que bem estamos fazendo a nós mesmos? Quem são os nossos amigos? Afinal, temos amigos ou seguidores? Somos amigos, ou somos fãs?

A super exposição não faz bem para nenhum dos lados. Nem para quem “produz” nem para quem “consome”. Quem produz fica na ansiedade da aceitação, quem consome fica na apatia do rolar dos feeds  para se distrair e quem sabe encontrar algo interessante/compartilhável/revoltante para então interagir.

De que lado você está? Não importa o lado, a internet pode te deixar pobre e doente! Vou lhe provar.

Efeito manada, Influência e lei de mercado

Efeito manada é um termo usado para descrever situações em que indivíduos em grupo reagem todos da mesma forma, embora não exista direção planejada. O Efeito Manada na Web acontece, por exemplo, quando produtos, lugares e atitudes viram moda. E de repente, todo mundo quer ir para Fernando de Noronha ou Tailândia, fazer Slime e usar os produtos da Kylie Jenner. Mas por que isso acontece? Porque somos condicionados a repetir o comportamento de pessoas que temos com exemplo, ou seja, de pessoas que de certa forma, exercem influência sobre nós. E não se engane não é nada orgânico, é tudo bem calculado e planejado.

Para entender um pouco mais sobre isso, sugiro a leitura do artigo publicado pelo G1: Efeito manada’ nas redes sociais e ‘economia disruptiva’ podem estimular turismo predatório. Nesse artigo, a autora discorre sobre como o efeito de manada e a influencia digital estão afetando o turismo e a natureza. Também fala sobre o impacto desse efeito na economia e na população dos destinos da moda, sejam eles grandes cidades ou recantos naturais sem estruturas para acomodar a crescente procura.

E como a lei de mercado entra nessa história? No mercado, o que dita o preço de um produto ou um serviço é a oferta e a procura, sendo que o preço cresce de forma diretamente proporcional à procura. Se podemos manipular a procura, atingir milhares de pessoas de diversas direções, com diversas abordagens e usando diversos influenciadores, então pode-se vender qualquer coisa, a qualquer preço.

Outro fator interessante que podemos observar é a concentração do poder e do dinheiro em grupos econômicos específicos. Por exemplo, o facebook (que hoje inclui instagram e whatsapp), o Google, e a Amazon dominam o mercado global da internet, cada um em seu setor. Você já se perguntou como essas redes podem ser tão ricas se são gratuitas? O que elas produzem? O que vendem e para quem elas vendem?

O google e o facebook não produzem nenhum conteúdo. Quem produz são os criadores, que usam essas plataformas para acessar o público, que não é o cliente dessas plataformas, mas sim o produto. Ou seja, eu e você, a nossa atenção, está sendo comercializada de uma maneira muito direcionada, para a indústria da publicidade. Por isso, que os tão falados algoritmos levam em conta o tempo de retenção da atenção do usuário, e também levam em conta o nosso perfil de busca e consumo. Isso nos torna muito mais sucetíveis a comprar produtos, cursos, experiências, viagens, etc. Itens que, talvez, nem precisamos.

Depressão e Síndrome de Burnout

Em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 20% dos dos adolescentes têm depressão. Isso significa que de 10 adolescentes, 2 estão deprimidos. E posso afirmar que esse número é questionável, principalmente pelo fato de se tratar de adolescentes. Adolescentes não falam sobre depressão, eles simplesmente não entendem o que sentem e se fecham, ou se superexpoem e inventam realidades paralelas em busca de aceitação por grupos. As crianças e os adolescentes são o nosso futuro. Devemos ter mais cuidado com eles.

Recentemente muitos criadores de conteúdo e youtubers relataram em suas redes problemas de esgotamento mental e síndrome de burnout. Alguns até deixaram a atividade por ser muito estressante e serem extremamente exigidos pelas plataformas (algoritmos que mudam o tempo todo e que levam em conta a quantidade de conteúdo produzido e horas de retenção do usuário), pelos anunciantes, e, principalmente pelo público, que avalia, mede e vigia, cada atitude do indivíduo – que não pode mais errar e não pode mais ser humano.

A depressão e a sindrome de burnout são paralisantes. Isso significa que além de sentir um esgotamento mental e profunda tristeza, você fica incapacitado de produzir e gerar riqueza a partir do seu trabalho. Sem falar que vai direcionar ao consumo, as suas satisfações pessoal. Daí a pobreza e a doença.

Mas como vencer esses problemas?

A solução não é isolar-se digitalmente, como Jaron Lanier chega a defender em seu livro Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais . A solução é hackear o sistema. É entender o fenômeno e usar recursos da comunicação de forma que não te afetem negativamente.

Dicas simples para te ajudar a usar a internet e as redes sociais sem ser mal influenciado:

1. Faça o Unfollow terapêutico com uma certa frequência.
2. Deixe sua conta no privado caso não tenha um perfil profissional e configure a privacidade das suas publicações.
3. Faça pesquisas em guia anônima – principalmente quando for fazer busca de produtos
4. Selecione suas “fonte confiáveis” e cadastre o RSS no Feedly, por exemplo. Reavalie isso sempre!
5. Estabeleça tempo para uso das redes sociais e um horário para parar de usar o celular. Por exemplo, a partir das 22h. Isso faz muito bem para o seu sono! E horários em família sem telas.
6. Interaja mais com pessoas reais e do seu convívio diário.
7. Organize seu e-mail para que Newsletters e propagandas cheguem em pastas separadas
8. Coloque o seu celular em modo avião, desabilite notificação ou deixe o celular longe de você quando estiver fazendo uma tarefa importante, como estudar, trabalhar, ler um livro, comer.
9. Use ferramentas analógicas no seu dia-a-dia. Papel, caneta, agenda, planner, etc para se organizar e incentivar a criatividade. Escrever a mão também favorece a fixação de conteúdos.
10. Contenha a compulsão de compartilhar tudo. Desafie-se a passar dias, uma semana, p.ex, sem publicar nada.
11. Reduza ao máximo o número de grupos que você participa no whatsapp e tente usar ferramentas mais eficientes de comunicação. Se você ligar para a pessoa, por exemplo, vocês já podem ter uma conversa completa e resolver alguma pendência em poucos minutos. A troca de mensagens nos faz ficar checando o telefone o tempo todo na expectativa de receber mais mensagens, o que rouba a nossa atenção e nos leva para outras atividades, já que já pegamos o celular.
12. Considere assinar o YouTube Premium que não mostra vídeos de propaganda. (Importante também para crianças).
13.  Use bloqueadores de propaganda, como o Adblock.
14. Não forneça seus dados em estabelecimentos comerciais, principalmente e-mail, telefone e CPF.
15. Seja Crítico e tenha várias fontes de informação – evite polarizações e tente entender diversos pontos de vista! A internet tem que ser inclusiva também!!

Dicas Bônus para Criadores de Conteúdo:

1. Conheça o seu público – qual conteúdo ele gosta, em que formato, em qual rede e em qual horário. Você não vai conseguir estar em todos os lugares o tempo todo. Nem tente! Eduque sou público e mantenha a consistência.
2. Não subestime o poder do blog se você quer entregar conteúdo de valor e realmente ajudar pessoas. Faça conteúdo durável, atemporal e mantenha registro de tudo!
3. Tire férias reais! Mesmo que seja para Fernando de Noronha.
4. Crie relacionamentos reais com outros criadores e colaborem um com o outro,  inclusive no mundo real.
5. Faça diferente, ande na contra-mão, anda adiante.

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Fonte das Imagens: Freepik